Tire suas dúvidas sobre imunização e o câncer
Pacientes oncológicos podem ter baixa imunidade — tanto por conta da doença, quanto do próprio tratamento. Com isso, tornam-se suscetíveis a contrair infecções, o que pode colocar sua saúde em risco, além de atrasar cirurgias e sessões de radioterapia ou quimioterapia. Dessa forma, falar sobre a imunização e o câncer é fundamental.
Neste artigo, abordamos como é a vacinação para o público adulto e idoso, em geral, e para aqueles em tratamento oncológico. Continue a leitura e entenda as diferenças.
Qual é a importância da vacinação para adultos e idosos?
Conforme constatado no último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),o Brasil está passando por um processo de envelhecimento acelerado. A projeção é de que, em 2060, um em cada quatro brasileiros terá mais de 65 anos.
Portanto, antes de abordarmos a questão da imunização e o câncer, vamos falar sobre a sua importância para adultos e idosos em geral. Como se sabe, manter a caderneta de vacinação atualizada permite prevenir a ocorrência de diversas doenças infecciosas, muitas das quais são passíveis de complicações.
Essa medida simples, associada a um estilo de vida saudável, faz com que nós não apenas vivamos mais, mas tenhamos mais qualidade de vida.
Quais são as vacinas recomendadas para adultos e idosos?
Segundo a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm),há diversas doenças imunopreveníveis no contexto dos adultos e idosos. São exemplos: sarampo, febre-amarela, hepatite A, hepatite B, difteria, influenza (gripe),doenças pneumocócicas (incluindo a pneumonia),caxumba, coqueluche, HPV e herpes zóster.
A cobertura para esse público inclui as seguintes vacinas: dT e dTpa, tríplice viral, hepatite B, influenza e febre-amarela. A partir dos 50 anos, a SBIM chama a atenção para a importância da imunoprevenção contra influenza, doenças pneumocócicas e hepatite B.
Existem vacinas que ajudam a prevenir o câncer?
Sim! Tratam-se das vacinas que protegem contra infecções consideradas como fatores de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer. São elas:
- vacina contra a hepatite B, que ajuda a prevenir o câncer de fígado;
- vacina contra o HPV (papilomavírus humano),que ajuda a prevenir os cânceres de colo do útero, de ânus, de boca e orofaringe, de pênis, entre outros.
Em relação à última, a vacinação na vida adulta (para quem não foi vacinado na idade recomendada) é indicada até os 45 anos. Porém, pode ser considerada e administrada em pacientes mais velhos, apesar da menor eficácia conforme a idade avança.
Qual é a relação entre a imunização e o câncer?
A vacinação em pacientes oncológicos varia caso a caso e deve, sempre, ser avaliada pela equipe médica responsável. De qualquer forma, entender a relação entre a imunização e o câncer é primordial para a sua saúde. Isso porque, neste grupo, as infecções têm mais chances de evoluírem, de forma grave — piorando o quadro clínico como um todo.
Aliás, as enfermidades imunopreveníveis que apresentam maior risco para os pacientes oncológicos são:
- as doenças pneumocócicas, cujo risco de desenvolver a forma invasiva é 12 vezes maior do que na população geral, aumentando dependendo do tipo de tratamento oncológico realizado;
- e a influenza, cujo risco de hospitalização é quatro vezes maior, em comparação à população geral.
Vale destacar que o nível de imunocomprometimento é determinante para a resposta vacinal. Para potencializar os benefícios, deve-se recorrer a esquemas vacinais específicos, recomendados de forma individualizada.
Quais são as vacinas indicadas para pacientes com câncer?
Segundo a SBIM, o esquema vacinal para pessoas com doenças oncológicas em atividade pode incluir:
- vacina contra a influenza;
- pneumocócicas conjugadas;
- pneumocócicas polissacarídea 23 valente;
- herpes zóster inativada (VZR);
- meningocócicas conjugadas;
- meningocócica B;
- hepatite A;
- hepatite B;
- HPV, até 45 anos;
- Haemophilus influenzae B;
- tríplice bacteriana do tipo adulto (dTpa) ou dupla adulta (dT);
- Covid-19.
Mas, atenção: como mencionado, as recomendações vacinais para pacientes oncológicos podem exigir exigem esquemas diferentes dos recomendados para a população geral. Isso inclui reforços adicionais, indicações que não estão nos calendários de rotina e/ou contraindicações.
Portanto, quando se trata de imunização e o câncer, é preciso haver um planejamento adequado e individualizado. Para tanto, o/a oncologista responsável pelo acompanhamento considera a idade, o grau de comprometimento imune e o histórico vacinal pessoal, além do quadro clínico decorrente da neoplasia apresentada.
Como funciona a vacinação em pacientes oncológicos?
Para a melhor resposta imunológica, a administração das vacinas em pacientes com câncer deve ser feita, pelo menos, 15 dias antes do início do tratamento. Quando não for possível, é melhor aguardar entre três a seis meses após seu término.
Outro aspecto importante é utilizar apenas vacinas inativadas, pois vacinas de vírus vivos atenuados ou de bactérias podem ser perigosas. Na prática, como o sistema imunológico desses pacientes está debilitado, existe o risco de desenvolver a doença contra a qual deveria ter sido protegido.
Assim, pacientes oncológicos (adultos e idosos) não devem receber vacinas para febre-amarela, dengue, tríplice viral, tuberculose (BCG) e herpes zóster (composta por vírus vivos atenuados).
Por fim, é importante lembrar que a imunização dos chamados conviventes (familiares, cuidadores e profissionais da saúde) também é necessária, pois reduz o risco de transmissão das doenças infecciosas. A recomendação vale, principalmente, para pacientes cujo nível de imunodepressão contraindica ou reduz a eficácia das vacinas.
Para concluir, quando falamos sobre imunização e o câncer, a regra é clara: tome as vacinas indicadas, de maneira individualizada, pelo seu médico. Como mostrado, a medida ajuda a cuidar da sua saúde, protegendo contra diversas infecções e respectivas complicações. Além disso, é importante que acompanhantes e familiares de pacientes oncológicos também se mantenham imunizados, favorecendo ainda mais a proteção do seu ente!
Hereditariedade não é o principal fator de risco para casos de câncer de mama
A semelhança entre mães e seus filhos na maioria das vezes é visto como algo positivo, afinal, que mãe não gosta de se ver nos traços de seus pequenos? Porém, quando essa mãe tem câncer de mama, a genética passa a assustar principalmente às filhas que acreditam que serão assombradas pela doença a qualquer momento. Por isso, neste Dia das Mães, a Sociedade Brasileira de Mastologia esclarece que é mito pensar que a hereditariedade é o principal fator de risco em casos de câncer de mama. Estudos comprovam que apenas 5% a 10% de casos têm de fato na sua base uma composição genética familiar, ou seja, em sua maioria a causa do câncer de mama é chamada de tumores esporádicos, que acontecem ao acaso.
Ainda assim, mesmo não sendo o principal fator para a doença, testes genéticos podem ser realizados em mulheres com alto risco de mutações associadas ao câncer de mama. Porém, recente estudo publicado pelo JAMA, o Jornal da Associação Americana de Medicina, revelou que médicos costumam não recomendar este tipo de exame para pacientes nestas condições. “Mulheres têm muito interesse em testes genéticos, mas muitas não recebem indicação para fazê-los”, afirmou Allison Kurian, professora de Medicina na Universidade de Stanford e principal autora do estudo. “Isso é particularmente preocupante porque significa que os médicos estão perdendo a oportunidade de prevenir o câncer em portadoras de mutações e membros da família”, acrescentou.
O estudo identificou que cerca de 60% das pacientes que não realizaram o teste afirmaram que não fizeram porque seus médicos não recomendaram e apenas 40% de todas as mulheres com alto risco relataram receber aconselhamento genético para ajudá-las a decidir ou entender os resultados. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Mastologia, Antonio Luis Frasson, os resultados são preocupantes porque os testes podem ser uma ferramenta poderosa para mulheres de grupos de risco. “Por mais que a genética não seja o principal fator de risco para a doença, não podemos negar o direito da mulher de entender e decidir que tipo de cirurgia ela pode optar para tratar um câncer de mama ou tratamentos para tentar diminuir o risco de desenvolver novos cânceres no futuro.”
Segundo Frasson, o percentual de mulheres que faz o teste no Brasil é muito inferior ao que seria o recomendado. No sistema público, porque não está disponível, e fora dele, na maioria das vezes, por falta de informação e desinteresse.
Nota: anticoncepcionais aumentam risco de câncer de mama
Estudo revela que uso de anticoncepcionais aumenta o risco de câncer de mama
Estudo publicado no New England Jornal of Medicine, uma das mais prestigiadas publicações científicas do mundo, revela que o risco de câncer de mama é maior para as usuárias de anticoncepcionais em relação àquelas que nunca recorreram ao medicamento. O estudo também afirma que o risco é elevado na medida em que aumenta o tempo de uso tanto para as mulheres que usam atualmente quanto para as que utilizaram no passado.
A pesquisa foi realizada com 1,8 milhão de mulheres da Dinamarca, na faixa etária entre 15 e 49 anos, que não tinham tido câncer, assim como não tinham tido tromboembolismo ou feito tratamento para infertilidade. A partir do registro nacional, os pesquisadores obtiveram dados individualizados a respeito do uso de anticoncepcionais orais, diagnóstico de câncer de mama e fatores que pudessem confundir as informações. As pacientes foram acompanhadas por um tempo médio de 10 anos e foram identificados 11.517 casos de câncer de mama. Houve um caso a mais de câncer do que o esperado para cada 7.690 usuárias de anticoncepcionais hormonais.
Quando os dados foram comparados com os de mulheres que nunca usaram anticoncepcionais, o risco relativo de ter câncer de mama foi 20% superior em relação às não usuárias. O risco foi 9% superior a partir de um ano de uso e até 38% superior a partir de 10 anos. Isto significa, por exemplo, que se a chance de ter câncer de mama até os 50 anos é de 2%, para quem usou o medicamento por um ano o risco foi de 2,2%. E para quem usou por mais de 10 anos o risco foi de 2,76%.
Não houve algum tipo de anticoncepcional que não tenha tido relação com aumento de risco, inclusive os DIUs com progesterona.
O estudo não avaliou o impacto na mortalidade geral por câncer. Sabemos que anticoncepcionais reduzem o risco de câncer de ovário, de endométrio e câncer colorretal. Além disso, mulheres que usam anticoncepcionais são mais bem acompanhadas em relação as que não usam. Talvez, quando a avaliação de mortalidade por câncer for analisada, o risco de morrer por esta doença em geral possa ser inclusive menor.
Nem o estudo publicado e nem a Sociedade Brasileira de Mastologia recomendam que as mulheres interrompam o uso do anticoncepcional que estiverem utilizando. Baseado neste estudo e em estudos prévios sobre a relação ao uso de anticoncepcionais orais e câncer de mama, a Sociedade Brasileira de Mastologia sugere que cada usuária de anticoncepcionais avalie ou discuta com o seu médico sobre os riscos e os benefícios desta decisão. Isso porque o aumento de risco é relativo, dependendo da idade e do tempo de uso.
Câncer de mama também acomete os homens
Alterações genéticas, má alimentação e uso de hormônios estão entre as causas da incidência masculina
O câncer de mama é o segundo tipo que mais acomete as mulheres brasileiras. No entanto, os homens também podem ser diagnosticados com a doença. A incidência masculina é rara, pouco frequente e, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca), representa 1% do total de casos neste público. Isso ocorre porque os homens também possuem tecido mamário, só que em quantidade menor, o que possibilita que o nódulo seja facilmente apalpado.
Estudos mostram que a média de idade dos homens que apresentam a doença varia entre 50 e 70 anos. Na maioria dos casos, a detecção é feita em estágio avançado, o que pode dificultar o tratamento e haver metástase. “O principal motivo dessa demora no diagnóstico é o preconceito. Como o câncer de mama tem principalmente as mulheres como alvo, há uma falta de conscientização sobre a importância dos exames de rotina”, afirma o presidente da SBM, Vilmar Marques.
Entre as principais causas da doença nos homens estão as alterações genéticas e hormonais, alimentação rica em gorduras, excesso de álcool ingerido, além do uso de anabolizantes ou de hormônios. Segundo o presidente da SBM, a melhor maneira de combater a doença é a informação. “É preciso orientar os homens quanto à possibilidade de também terem câncer de mama, assim como manter hábitos saudáveis de vida, como alimentação balanceada, atividade física regular, redução do consumo de álcool, abolição do tabagismo, controles do diabetes e peso, além de procurar o médico regularmente”, completa o médico.
Quando existe a queixa de um nódulo, o diagnóstico é feito por meio do histórico do paciente e de exames como mamografia, ultrassonografia e biópsia do tumor. O tratamento dependerá do estágio do tumor, podendo ser feito através de cirurgia, radioterapia ou quimioterapia. A cirurgia é indicada para praticamente todos os casos. Devido ao pequeno volume mamário, este procedimento consiste na retirada da mama e na realização de biópsia de um gânglio axilar para avaliar a extensão da doença. No caso de comprometimento axilar, os linfonodos axilares também são retirados. Quanto mais cedo for iniciado o tratamento, menor a extensão da cirurgia e menor a necessidade de receber quimioterapia e radioterapia.
A SBM recomenda que os homens façam o autocuidado ao prestar atenção nos sinais do seu corpo. Caso note alguma diferença, é indicado buscar um médico imediatamente para uma avaliação.
Pesquisa avalia o conhecimento das mulheres brasileiras sobre câncer de mama
Estudo Datafolha/Gilead Oncology indica que 69% das entrevistadas se consideram bem informadas; 99% reconhecem a importância do Outubro Rosa como campanha para a prevenção da doença
Pesquisa realizada para avaliar o nível de conhecimento sobre o câncer de mama no Brasil revela que 69% das mulheres se consideram bem informadas a respeito da doença. No estudo feito pelo instituto Datafolha, a pedido da Gilead Oncology, 61% dizem se informar sobre o assunto. Para 26%, os esclarecimentos estão na internet; para 25%, em consultas médicas. O Outubro Rosa, conhecido por 98% das entrevistadas, é considerado por quase a totalidade das participantes uma “campanha muito importante para conscientizar as mulheres sobre os perigos do câncer de mama”, o segundo tipo mais comum nas mulheres e a principal causa de morte entre elas.
“Do ponto de vista qualitativo, a pesquisa é importante para sabermos como as mulheres buscam informações sobre o câncer de mama” afirma Bruno Laporte, mastologista titular da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Para o especialista, também é necessário para entender o quanto o Outubro Rosa, as campanhas realizadas pela SBM e por todos os mastologistas no Brasil “são fundamentais na mudança de conceito, na geração de conhecimento e na percepção que essas mulheres têm em relação ao câncer de mama, à prevenção e saúde”.
O estudo Datafolha/Gilead Oncology ouviu 1.007 mulheres, com média de idade de 43 anos, em capitais e regiões metropolitanas (44%) e no Interior (56%). O SUS (Sistema Único de Saúde) é o acesso de saúde para 75% das entrevistadas, sendo 91% das classes D/E e 87% com ensino fundamental. Os planos de saúde compreendem o acesso de 20% e o particular, de 18%.
Se 69% se consideram bem informadas sobre o câncer de mama, de acordo com a pesquisa, o grupo “Mais ou menos informada” representa 31% das respondentes e é formado por mulheres entre 25 e 29 anos (45%), da classe D/E (42%), negras (35%), com ensino fundamental (35%) e usuárias exclusivas do SUS (36%). “Este grupo, em especial, evidencia a necessidade e a importância de políticas públicas e estratégias específicas de informação para o conhecimento e o rastreamento da doença”, ressalta Laporte.
As mulheres que buscam informações sobre a doença são 61%, segundo o levantamento. A internet aparece como a principal fonte para sanar dúvidas (26%), seguida da consulta médica (25%). “É importante notarmos no estudo que ‘matérias, divulgação e propaganda’, ‘redes sociais’, ‘palestras’ e ‘campanhas do Outubro Rosa’ representam quase um terço das informações obtidas e, portanto, são canais a serem mais explorados com esclarecimentos sempre precisos”, pontua o mastologista da SBM.
Sobre o Outubro Rosa, reconhecido por 99% das entrevistadas pela importância da conscientização sobre os perigos do câncer de mama, há dados relevantes, segundo Laporte. “A campanha motivou 70% das mulheres a procurarem um médico, e 40% foram estimuladas a fazer mamografia.”
Para 97% das respondentes, o diagnóstico da doença em fases iniciais aumenta as chances de cura. O autoexame é tido como “fundamental” entre 98% das participantes do levantamento para a prevenção contra o câncer de mama. “O autoexame mensal tem limitações e não diminui a mortalidade quando empregado isoladamente”, diz o especialista. “O conceito que propõe uma abordagem mais moderna, leve e efetiva que o autoexame mensal é o ‘conhecimento do próprio corpo’, com atenção aos sinais e alterações do organismo”, completa. Para o mastologista, o novo conceito deve estar associado à importância da mamografia como método de rastreamento da doença, “sendo o único exame com diminuição de taxa de mortalidade em mulheres de risco habitual”.
Entre as mulheres que fazem a mamografia, 49% têm o exame como rotina, sendo 60% das classes A/B e 37% das classes D/E. Duas em cada dez entrevistadas (21%) realizaram por solicitação médica, e 16% porque “sentiram caroço ou nódulo” nas mamas.
Ser jovem (42%) e não ter o pedido do médico (30%) são os principais motivos para as mulheres ouvidas nunca terem feito uma mamografia. “A pesquisa não estratifica a idade dessas mulheres, mas é importante ressaltar que 15% não realizaram o exame porque estavam assintomáticas; 10% nunca pensaram em realizá-lo”, observa o médico. Problema de acesso para fazer a mamografia foi relatado por 6%. “Isso nos faz pensar, por todos os motivos apresentados no estudo, que a dificuldade para a realização do exame pelo SUS pode não ser a principal causa da baixa taxa de cobertura de rastreamento no País”, destaca.
Nove entre dez participantes da pesquisa não souberam apontar algum subtipo de câncer de mama ou estágio da doença. No entanto, no consenso geral, 62% citaram a quimioterapia e 43% a radioterapia como tratamentos. Somente 21% citaram a cirurgia, sendo 20% especificamente a mastectomia. “É muito importante informar que a mastectomia com a retirada total da mama é indicação a uma pequena parcela de pacientes”, afirma. A cirurgia conservadora, indica o especialista, é uma opção e uma estratégia a ser considerada, visando a segurança, a manutenção da feminilidade e a autoimagem da mulher.
“Tão importante quanto apresentar pesquisas relevantes, como a realizada pelo Datafolha/Gilead Oncology, é ouvir e envolver entidades e associações como a Sociedade Brasileira de Mastologia para que o entendimento da população brasileira sobre o rastreamento, a prevenção, o diagnóstico e as alternativas de tratamento do câncer de mama sejam sempre ampliados”, conclui Bruno Laporte.
Recomendação sobre uso de androgênios e câncer de mama
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) vê com grande preocupação o uso crescente de testosterona e seus derivados sintéticos pela população feminina no País.
A utilização de androgênios associada à incidência de câncer de mama, assim como à evolução da doença, é desconhecida. Porém, conceitos teóricos nos levam a ponderar sobre o possível aumento de risco e piora da doença.
As informações, disseminadas especialmente em redes sociais, sobre a possível segurança e os efeitos terapêuticos destes hormônios são baseadas em conceitos falsos ou análises incompletas do assunto, podendo culminar em danos irreparáveis à saúde.
De acordo com estimativa da Sociedade Brasileira de Endocrinologia, 1,6% das mulheres recebem recomendações para uso de hormônios masculinos. As indicações são múltiplas, incluindo benefícios estéticos.
A reposição de testosterona é claramente recomendada em diagnósticos de hipogonadismo masculino e nas terapias para redesignação sexual em homens transgêneros. O uso em mulheres para fins estéticos é controverso e contraindicado por agências reguladoras de diversos países, inclusive pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A SBM ressalta que não existem estudos com alto rigor científico (ensaios clínicos randomizados) que avaliem de maneira precisa o risco de câncer de mama relacionado ao uso de hormônios masculinos.
No entanto, os androgênios têm potencial para aumentar o risco de câncer de mama através de dois mecanismos: (i) estímulo direto de receptores androgênicos, presentes em alguns tipos de tumor mamário; (ii) transformação do androgênio em hormônio feminino (estrógeno), através da conversão periférica mediada pela enzima aromatase e estímulo direto a receptores estrogênicos, presentes na maioria dos casos de câncer de mama.
Mesmo diante da limitação de pesquisas, alguns estudos já demonstram maior incidência de câncer de mama em mulheres com níveis androgênicos séricos elevados ou pessoas que receberam terapia hormonal androgênica para redesignação sexual.
Sendo assim, a Sociedade Brasileira de Mastologia conclui:
- Diante da falta de estudos que atestem segurança para o uso de hormônios masculinos, e tomando-se por base potenciais riscos teóricos, recomenda-se que mulheres com câncer de mama não utilizem androgênios exógenos.
- A princípio, a mesma conduta deve ser sugerida a mulheres com alto risco para a doença.
- O uso desta medicação em mulheres com baixo risco para câncer de mama, ou seja, a população em geral, pode aumentar o risco de desenvolvimento da doença. A utilização deve se restringir a situações necessárias, sob rigorosa supervisão médica e após ampla discussão com a paciente.
- Informações sobre a ausência de riscos ou possível proteção mamária através do uso de androgênios, da forma como vêm sendo apregoadas na mídia e em redes sociais, são incorretas, e com base nos dados científicos atuais, não devem ser repassadas à população.
Referências Bibliográficas
Novita G, Mateus EF. Uso de androgênios e câncer de mama. In: Novita G, Bagnoli F, Mattar A, Mori LJ, Mateus EF; Doenças Mamárias para Ginecologistas, 1ª edição; Rio de Janeiro, Ed. Atheneu, 2023; ISBN 978-65-5586-771-8.
Pott J, Bae YJ, Horn K, Teren A, Kühnapfel A, Kirsten Het al., Genetic Association Study of Eight Steroid Hormones and Implications for Sexual Dimorphism of Coronary Artery Disease. J Clin Endocrinol Metab, 2019 Nov 1;104(11):5008-5023. doi: 10.1210/jc.2019-00757.
Nounu A, Kar SP, Relton CL, Richmond RC. Sex steroid hormones and risk of breast cancer: a two-sample Mendelian randomization study. Breast Cancer Res. 2022 Oct 8;24(1):66. doi: 10.1186/s13058-022-01553-9.
de Blok CJM, Wiepjes CM, Nota NM, van Engelen K, Adank MA, DreijerinkKMA, Barbé E, KoningsIRHM, den Heijer M. Breast cancer risk in transgender people receiving hormone treatment: nationwide cohort study in the Netherlands. BMJ. 2019 May 14;365:l1652. doi: 10.1136/bmj.l1652.
Ruth KS, Day FR, Tyrrell J, Thompson DJ, Wood AR, Mahajan A et al., Using human genetics to understand the diseaseimpacts of testosterone in men and women. Nature Med, 2020; 26: 252-58; https://doi.org/10.1038/s41591-020-0751-5.